
O que é Navarātri?

Navarātri (do sânscrito nava = nove, rātri = noites) é um dos festivais mais importantes da tradição védica e do hinduísmo.
Durante nove noites e dez dias, devotos celebram a Deusa (Śakti) em suas diferentes formas — força, abundância e sabedoria — através de práticas espirituais, cânticos de mantras, jejuns e meditações.
Mais do que um festival externo, Navarātri é um caminho interior de transformação. A cada três noites, honramos um aspecto da Deusa e despertamos essas mesmas qualidades dentro de nós:
Durgā (1º–3º dia): purificação e força para remover obstáculos.
Lakṣmī (4º–6º dia): prosperidade, abundância e nutrição.
Sarasvatī (7º–9º dia): sabedoria, arte e aprendizado.
Vijayadaśamī (10º dia): celebra a vitória da luz sobre a escuridão.
O significado espiritual do Navarātri
Nas escrituras, especialmente no Devī Mahātmya, o festival é descrito como a vitória da Deusa sobre Mahishāsura, o demônio-búfalo que simboliza a ignorância e as forças que limitam a consciência.
No plano simbólico, cada etapa do Navarātri é uma jornada interior:
Purificar – reconhecer e transformar nossas sombras e medos (Durgā).
Nutrir – cultivar prosperidade, amor e alegria (Lakṣmī).
Clarear – despertar sabedoria e visão (Sarasvatī).
Ao final, no Dia da Vitória (Vijayadaśamī), celebramos a consciência que supera a ignorância — um momento considerado extremamente auspicioso para novos começos, acordos e projetos.
Navarātri & Tradições
Na perspectiva Vedānta, o festival não é apenas ritual, mas um processo de refinamento da mente para o autoconhecimento.
É um tempo para:
Cultivar virtudes (daivī sampad), como coragem (abhayam), discernimento, desapego (vairāgya) e clareza.
Praticar autoestudo (svādhyāya), estudando textos como o Devī Mahātmya, o Bhagavad Gītā e as Upaniṣads.
Meditar e cantar mantras, purificando a mente e conectando-se com o divino.
Reconhecer a natureza do Ser (ātman) como pura, livre do medo e da ignorância.
Aqui, a ênfase está no processo interno de transformação espiritual.
Na tradição do Śākta Tantra e das práticas devocionais a Durgā (Śāktismo), as nove noites do Navarātri são dedicadas às Navadurgā — nove formas da Deusa, cada uma com uma energia e simbolismo específicos:
Śailaputrī – a Filha da Montanha, símbolo de firmeza e raízes.
Brahmacāriṇī – disciplina espiritual e tapas.
Candraghaṇṭā – coragem e proteção.
Kūṣmāṇḍā – energia criadora do universo.
Skandamātā – compaixão e maternidade.
Kātyāyanī – guerreira contra as negatividades.
Kālarātrī – dissolução do medo e da escuridão.
Mahāgaurī – pureza e elevação.
Siddhidātrī – perfeição espiritual e bênçãos.
Esse ensinamento nos mostra que o Navarātri pode ser vivido como um verdadeiro mapa simbólico da vida, conduzindo-nos desde a raiz e a purificação até o despertar da sabedoria e a experiência da plenitude.
O que fazer durante o Navarātri?
Você pode direcionar a energia deste período à sua rotina de Yoga e espiritualidade. Algumas práticas incluem:
Meditações com mantras: uma para cada noite, invocando coragem, abundância e sabedoria.
Práticas de āsana e prāṇāyāma: posturas que trazem estabilidade e abertura (como Guerreiros e Anjaneyāsana) e respirações energizantes e centradoras.
Estudo: leitura de trechos do Devī Mahātmya, do Bhagavad Gītā ou das Upaniṣads.
Rituais simples: acender uma vela, oferecer flores ou alimentos como expressão de devoção.
Reflexão pessoal: observar medos, crenças limitantes e cultivar clareza interior.
Conclusão
O Navarātri é mais do que um festival cultural: é uma oportuidade de olhar para si mesma(o) com mais atençao. A cada noite, a Deusa nos lembra que a coragem, a prosperidade e a sabedoria que buscamos já vivem dentro de nós.
Que estas nove noites sejam um convite para a sua prática de Yoga, para sua meditação e para sua vida — despertando em você o destemor de Durgā, a abundância de Lakṣmī e a clareza de Sarasvatī.
Hariḥ Oṁ
Paty Abreu ॐ












