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Vivemos em um mundo marcado por inseguranças, ansiedades e incertezas. Entre tantas pressões, o medo se manifesta como um dos maiores limitadores da nossa vida interior.


As escrituras védicas, no entanto, oferecem um antídoto: abhayam, o destemor. Mais do que a ausência de medo, abhayam é um estado de confiança espiritual, de enraizamento no Ser, e de clareza diante da impermanência.


Lamparinas Indianas

Abhayam nas Escrituras


Abhayam é um valor central na tradição védica, mencionado tanto no Bhagavad Gītā quanto nas Upaniṣads. No capítulo 16 da Gītā, Śrī Kṛṣṇa o coloca como a primeira qualidade divina (daivī sampad), revelando que o destemor nasce da conexão com o divino e da compreensão da verdadeira natureza da realidade.


Swami Prabhupāda comenta que a vida divina se manifesta em virtudes como pureza, compaixão, renúncia, determinação, tranquilidade e coragem — todas enraizadas em abhayam.


"A Suprema Personalidade de Deus disse: Destemor; purificação da própria existência; cultivo de conhecimento espiritual; caridade; autocontrole; execução de sacrifícios; estudo dos Vedas; austeridade; simplicidade; não violência; veracidade; estar livre da ira; renúncia; tranquilidade; não gostar de achar defeitos; compaixão para com todas as entidades vivas; estar livre da cobiça; gentileza; modéstia; firme determinação; vigor; clemência; fortaleza; limpeza; e estar livre da inveja e da paixão pela honra — estas qualidades transcendentais, ó filho de Bharata, existem nos homens piedosos dotados de natureza divina."

No Caminho do Yoga


Para quem pratica Yoga, abhayam não é apenas ausência de medo físico, mas um estado de mente livre de dúvidas, ansiedades e inseguranças.O destemor surge quando:


  • nos entregamos ao fluxo do dharma, confiando na ordem do universo;

  • praticamos svādhyāya (autoestudo), dissolvendo crenças limitantes;

  • cultivamos uma relação viva com o divino, reconhecendo o Ser como eterno;

  • exercitamos o vairāgya (desapego), entendendo que tudo é transitório e que o medo é ilusão criada pela mente.

Como disse Chögyam Trungpa:


"Para um guerreiro, é a experiência do coração triste e terno que dá origem ao destemor, à coragem." Chögyam Trungpa 

Abhayam na Vida Moderna


No mundo contemporâneo, onde a ansiedade frequentemente encobre ānanda (felicidade essencial), abhayam se torna ainda mais necessário. É um valor que podemos cultivar no dia a dia com Yoga e reflexão. Ao compreender que somos parte do divino, a incerteza da vida perde sua força sobre nós.


Bel César nos lembra:

“A coragem é um estado que surge quando nos movemos além da esperança e do medo.”“É preciso aquecer nossa mente-coração para ter coragem.”
"A palavra “ coragem” tem a mesma raiz que a palavra francesa coeur, que significa “ coração”. No Ocidente, associamos a mente ao cérebro. No Budismo, ela está associada ao coração. É preciso aquecer nossa mente-coração para ter coragem!” Bel César

O Bīja Mantra Dūm 


O som-semente Dūm sustenta a energia de proteção, coragem e encorajamento. É um mantra ligado a Durgā, a manifestação guerreira de Pārvatī, que simboliza a vitória do bem sobre o mal.


Durgā, montada em um leão ou tigre, empunhando armas e oferecendo a mão em abhayamudrā, é a personificação da Śakti protetora, que elimina obstáculos e inspira confiança. Invocar Dūm é chamar essa força protetora que nos lembra que a verdadeira coragem não está em lutar contra o mundo, mas em reconhecer e transformar nossas próprias sombras.


Entoar Dūm é, portanto, cultivar dentro de nós um estado de destemor e presença. Cada repetição nos ancora no coração, fortalecendo a confiança de que somos guiados e protegidos, mesmo diante das mudanças e incertezas da vida.


Durga


Abhayam é então a coragem de viver alinhados à verdade do coração. É o destemor que nasce quando aceitamos a impermanência e confiamos na sabedoria maior da vida. Como diz Bel César:

“Quanto maior for nosso potencial de aceitação frente à mudança, maior será nossa capacidade de prosperar. A vida é a favor da mudança.”

Que possamos cultivar abhayam como prática diária — no tapetinho e fora dele — lembrando sempre que a coragem verdadeira é fruto da confiança no divino que habita em nós.


"A maior parte das vezes, para ir ao encontro com o que nos surge como genuíno e verdadeiro, temos de fazer grandes mudanças em nossa vida. Quando nos confrontamos com algo que parece ser de fato o que queremos, temos de ter a coragem de abraçá-lo, isto é, temos de aceitar as mudanças que nossas escolhas acarretam. Quanto maior for nosso potencial de aceitação frente à mudança, maior será nossa capacidade de prosperar. A vida é a favor da mudança.” Bel César 

Hariḥ Oṁ


Paty Abreu ॐ


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