“A integração das forças solar e lunar, a transcendência da identificação com todos os pares de opostos, condição prévia para o despertar da potencialidade humana, é o objetivo deste Yoga." Pedro Kupfer
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No Haṭha Yoga, o Sol e a Lua não são apenas corpos celestes; eles simbolizam forças fundamentais que permeiam a nossa existência.
Este texto explora a profunda simbologia por trás dessas duas energias opostas e complementares – o Sol e a Lua – e como elas influenciam o equilíbrio do corpo, da mente e do espírito.
Veremos como essas polaridades estão intrinsecamente ligadas aos nāḍīs (canais energéticos), e como as práticas de Haṭha Yoga buscam integrar e harmonizar essas forças, levando o praticante a um estado de equilíbrio e elevação espiritual.
“Neste corpo, a montanha Meru (a espinha dorsal) está rodeada por sete ilhas; há rios, mares, campos e senhores dos campos também. Há nele rishis e sábios, e todas as estrelas e os planetas também. Há peregrinações sagradas, templos e deidades nos templos. O sol e a lua, agentes da criação e da destruição, também se movem nele. Espaço, ar, fogo, água e terra também estão aqui. Todos os seres que existem no mundo também se encontram no corpo. Rodeando o monte Meru, fazem as suas tarefas. (Mas os homens não sabem disso.) Aquele que sabe disto é um yogi. Não há dúvida sobre isso.” Shiva Samhitá,II:1-5
O Sol
O Sol é uma força simbólica poderosa, frequentemente associado à nossa essência mais profunda: a alma. Ele reflete tanto a energia vital que nos anima quanto a nossa conexão com os propósitos mais autênticos. Quando nos sentimos inspirados e alinhados com aquilo que verdadeiramente nos move, estamos em harmonia com os desejos da alma, e essa inspiração age como um guia, conduzindo-nos a viver de acordo com o que é essencial.
Seguir essas inspirações com consistência nos transforma. Ao honrar o que realmente importa, cultivamos uma imagem de nós mesmos como alguém confiável e firme. Essa transformação interna fortalece diretamente nossa autoconfiança e autoestima. Viver alinhado com o que nos inspira não apenas nos torna admiradores da nossa própria jornada, mas também nos leva a inspirar os outros.
O Sol, sendo a maior fonte de luz na Terra, simboliza também a consciência. A luz é uma metáfora para a clareza, e quando temos uma visão nítida da realidade, somos capazes de agir com firmeza. Essa clareza gera a segurança necessária para enfrentar os desafios com confiança. Autoconfiança, autoestima e clareza são qualidades que o
Sol nos proporciona e são essenciais para nossa expressão no mundo.
Além de sua associação com a clareza, o Sol está intimamente ligado à vitalidade e à disposição para viver. É essa energia que nos impulsiona a levantar da cama pela manhã e a perseguir nossos objetivos com entusiasmo. Assim como o Sol é o centro do sistema solar, ele representa a estabilidade em nossa vida, assim como a alma é o núcleo do nosso ser, mesmo quando nos identificamos mais com as camadas superficiais, como o ego.
A prática do Yoga nos ajuda a transcender essas camadas superficiais e a nos conectar com a nossa essência mais sutil — a consciência. O ego, que muitas vezes é mais denso e voltado para o exterior, gradualmente se dissolve à medida que acessamos essa luz interior. A alma, assim como o Sol, é a fonte de vida para o nosso corpo.
No simbolismo arquetípico, o Sol é frequentemente associado à figura do pai, que representa autoridade, liderança, proteção e orientação. Ele é a fonte de força e segurança que nos dá a estrutura necessária para atuar no mundo. Além disso, o Sol rege aspectos da nossa expressão externa e da nossa presença, refletindo o desejo de conquistar, liderar e brilhar.
Quando a energia do Sol está enfraquecida dentro de nós, podemos experimentar uma queda na autoestima, uma perda de vitalidade ou uma tendência a querer ser o centro das atenções de forma forçada. Esses desequilíbrios se manifestam como atitudes dominadoras ou exageradas, que, na verdade, são sinais de insegurança.
Portanto, honrar o Sol dentro de nós é reconhecer o poder da nossa alma, agir com consciência e seguir o que realmente nos inspira. Essa é a chave para viver com autenticidade, confiança e clareza, refletindo a luz interior que nos guia e anima.
Mantra para o Sol: Oṃ sūryāya namaḥ
A Lua
A Lua simboliza a mente, o campo central de estudo na tradição védica. Enquanto o Sol representa nossa essência e expressão no mundo, a Lua está profundamente conectada ao nosso universo interno, refletindo nossos sentimentos, desejos e percepções. Ela é um espelho do estado mental, que, assim como seu ciclo no céu, está em constante mudança.
A mente, assim como a Lua, é fluida e sujeita a flutuações. Ela é moldada pelo ponto de vista subjetivo com o qual observamos a vida, e essa perspectiva pessoal influencia diretamente as nossas opiniões, desejos e emoções. Quando mudamos o ângulo de visão sobre algo, a nossa percepção também se transforma, revelando o caráter instável da mente.
Assim como a Lua passa de cheia a nova em ciclos constantes, nossa mente também oscila, refletindo as "vṛttis", as flutuações que Patanjali descreve no Yoga Sūtra. O objetivo do Yoga, “Yogaś citta-vṛtti-nirodhaḥ”, é justamente transcender essas variações, alcançando um estado de clareza além da turbulência mental.
A Lua também influencia a maneira como construímos nossas opiniões. A partir dessas opiniões, formamos nossas preferências, decidimos o que desejamos ou rejeitamos, e isso, por sua vez, gera nossas emoções. A mente está intimamente ligada aos desejos: quando desejamos algo e alcançamos, sentimos alegria; quando rejeitamos algo indesejável, também nos sentimos satisfeitos. Esse jogo de apegos e aversões é uma dança mental, que muitas vezes distorce nossa percepção da realidade, refletindo e distorcendo a consciência, assim como a Lua reflete e distorce a luz do Sol.
A energia da Lua, com sua natureza feminina, nos conecta aos nossos ciclos internos. Ela representa a mãe, o arquétipo da nutrição emocional e do cuidado. Assim como a Lua governa os ciclos femininos e os ritmos da natureza, ela também regula nossas oscilações emocionais. O estado da nossa mente, e da Lua, reflete nosso equilíbrio emocional, revelando como lidamos com nossas próprias flutuações internas.
Quando a energia da Lua está em harmonia, sentimos clareza e estabilidade emocional, conseguimos manter um contato profundo com nosso eu interior e nossas emoções fluem com equilíbrio. No entanto, quando essa energia está enfraquecida, podemos experimentar instabilidade emocional, ansiedade, falta de clareza e até depressão. A Lua, então, revela como cuidamos do nosso universo interno, da nossa sensibilidade e das nossas necessidades emocionais.
Mantra para a Lua: Oṃ candrāya namaḥ
“O sol e a lua dão origem à divisão do tempo em forma de dia e noite. Suṣumṇā [não obstante], devora o tempo. Isto é um grande segredo. [“Devorar o tempo” significa transcender qualquer forma de apego ou ansiedade em relação a ele.]” Haṭhayoga Pradīpikā IV:17.
O Haṭha Yoga
No Haṭha Yoga, o Sol e a Lua são símbolos fundamentais que representam as polaridades da existência humana. O próprio termo "Haṭha" deriva de "Ha" (Sol) e "Ṭha" (Lua), sugerindo a busca pelo equilíbrio entre essas duas forças opostas: o Sol simboliza a energia ativa e dinâmica, enquanto a Lua representa a energia passiva e receptiva.
Essas polaridades estão relacionadas aos dois principais canais energéticos do corpo, os nāḍīs: Piṅgala Nāḍī (Sol) e Iḍā Nāḍī (Lua). Piṅgala, que corre pelo lado direito do corpo, está associado à energia masculina, à vitalidade, à ação e ao calor. Já Iḍā, que percorre o lado esquerdo, está relacionado à energia feminina, introspectiva, emocional e à mente subconsciente.
No Haṭha Yoga, o equilíbrio entre essas energias é essencial para o bem-estar físico e mental. Quando Iḍā e Piṅgala estão em harmonia, a energia flui livremente através do canal central, Suṣumṇā Nāḍī, que é responsável pela elevação espiritual e pela consciência plena.
“A integração das forças solar e lunar, a transcendência da identificação com todos os pares de opostos, condição prévia para o despertar da potencialidade humana, é o objetivo deste Yoga." Pedro Kupfer
Práticas de Haṭha Yoga, com āsanas (posturas) e prāṇāyāma (técnicas de respiração) entre outras técnicas, têm como objetivo equilibrar essas duas energias. Um exemplo clássico é a respiração alternada, Nādī Śodhana, que limpa e equilibra os canais de Iḍā e Piṅgala, promovendo uma união entre as qualidades solares e lunares dentro de nós.
O Sol (Piṅgala), no contexto do Haṭha Yoga, é a força que nos impulsiona a agir e a manifestar nossas intenções no mundo externo. Ele está relacionado à clareza, à determinação e ao foco. Quando equilibrado, traz vitalidade e poder de ação.
Por outro lado, a Lua (Iḍā) está ligada à introspecção, à sensibilidade e às emoções.
Assim como a Lua reflete a luz do Sol, Iḍā reflete e suaviza a energia dinâmica de Piṅgala. Quando em harmonia, promove tranquilidade mental, estabilidade emocional e uma conexão profunda com nosso eu interior.
O objetivo final do Haṭha Yoga é integrar essas polaridades. Quando o Sol e a Lua estão em equilíbrio, não há mais flutuações extremas de energia ou emoção. A energia vital (prāṇa) flui pelo canal central, permitindo que o praticante alcance um estado de clareza e paz interior, transcendendo as oscilações da mente e do corpo.
Enquanto o Sol ilumina o mundo externo, a Lua revela as profundezas do nosso universo interior. Ela nos guia na compreensão dos sentimentos e desejos que habitam o âmago do nosso ser. É nesse espaço íntimo que encontramos a verdadeira fonte de equilíbrio e clareza, conectando-nos com o que realmente nos nutre e traz paz.
A Lua reflete a sensibilidade, a imaginação e a conexão emocional que sustentam nossa jornada interna, enquanto o Sol nos impulsiona à ação e à expressão no mundo exterior. Juntos, eles simbolizam o equilíbrio perfeito entre o que revelamos ao mundo e o que cultivamos dentro de nós.
Nas nossas aulas de Haṭha Yoga, você terá a oportunidade de harmonizar essas duas forças, integrando o mundo interno e externo de maneira fluida e profunda, enquanto explora seu próprio equilíbrio.
Pronta para essa jornada de equilíbrio e autodescoberta?
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Hariḥ Oṁ
Patricia de Abreu ॐ