
No coração da tradição védica, existem declarações que não explicam o real — elas revelam.
São como espelhos, que não nos dizem o que ver, mas nos mostram quem somos quando tudo o mais se cala.
Essas afirmações são os Mahāvākyas, as 4 Grandes Afirmações védicas.

Originadas das Upaniṣads (final dos Vedas) os Mahāvākyas são mais do que palavras: são chaves.
Essas chaves servem para abrir a porta do conhecimento supremo e nos ajudam a entender quem somos para além da limitação do corpo-mente.
“A essência do ensinamento do Yoga é que o ser humano não está limitado, nem se reduz ao complexo corpomente.” Pedro Kupfer
Os Mahāvākyas São frases muito breves, como mantras, que quando usados em Meditação nos colocam em contato com essa realização de quem somos em verdade.
Segundo o professor Pedro Kupfer “Cada uma delas está associada com um dos quatro Vedas: Ṛg, Sama, Yajur e Athārva e figuram numa das várias Upaniṣads associadas com cada uma dessas coleções de mantras.”
1.Prājñanam Brahman: “Brahman é Consciência”.
Aitareyopaniṣad , III:.3, Ṛgveda.
A realidade última não está fora de nós. Ela é a própria consciência que agora ouve, vê e sente. Tudo é o Absoluto.
2. Aham Brahma’smi: “Eu sou Brahman”.
Māṇḍūkyopaniṣad , I:2, Athārvaveda.
A ideia de que somos um “eu” pequeno, separado, carente — é apenas uma crença. Em verdade, aquilo que somos é ilimitado. O Ser não nasce nem morre.
3. Tat tvam asi: “Tu és Isso”.
Chāndogyopaniṣad, VI:8.7, Sāmaveda.
O mestre aponta para o discípulo e diz: “O que você busca, já é você.” O buscador e o buscado são um só.
4.Ayam ātma Brahman: “Este Ātma é Brahman”.
Bṛhadāraṇyakopaniṣad, I:4.10, Yajurveda.
Não há dois: o Ātman (ser individual) e Brahman (realidade suprema) são inseparáveis. A essência da vida é a unidade, eterna, indivisível e atemporal.
Essas frases, ao serem contempladas, não adicionam algo novo à buscadora, mas sim removem o véu que nos impede de enxergar nossa essência, a pura consciência. Essas afirmcaões desfazem o esquecimento e dissolvem a ideia de separação. Refletir sobre elas é realizar a união - Yoga.
Os Mahāvākyas apontam diretamente para o núcleo do ser. Eles dizem, com simplicidade e profundidade inigualável quem somos.
Essas verdades não são conceitos para decorar ou acreditar. São convites para viver a realidade como ela é: sem véus, sem medo, em essência, simplesmente sendo.
Elas não dependem do tempo, do intelecto ou de práticas complexas. Dependem apenas de clareza e maturidade interior para serem reconhecidas.
Por isso, no caminho do Yoga deixamos que esses Mahāvākyas ressoem como sementes no solo fértil da mente. Com paciência, presença e entrega, um dia eles germinam.E quando germinam, não produzem teorias — produzem liberdade.
Porque saber isso não é saber "algo". É saber quem somos.E quando isso é visto, nada mais falta.
“Essa ênfase na consciência como fundamento da realidade ecoa diretamente o Mahāvākya "Prajnānam Brahma" (A Consciência é Brahman).” Georg Feuerstein
Como usar os Mahāvākyas?
Assim como os bīja mantras (sons-semente), os Mahāvākyas podem ser repetidos em meditação por um tempo, apreciando-se o seu significado e reconhecendo que a natureza da Consciência é a ausência de limitação.
Também é possível apenas ouvir a afirmação e permitir que ela ressoe internamente — refletindo sobre seu sentido, sobre quem somos de fato, e então permanecer em silêncio, contemplando... sentindo.
E para aprofundar essa verdade… Meditação!
Como diz Georg Feuerstein:"A meditação é central para o esforço espiritual em muitas escolas do Hinduísmo, notadamente na tradição do Yoga. Os praticantes de Yoga confiam no Ser como o Experienciador de tudo, a Continuidade infalível por trás da mudança incessante do mundo finito."
Começamos com a primeira grande afirmação: Prajnānam Brahma – “A consciência é Brahman.” E nas próximas semanas, seguimos com os próximos Mahāvākyas — essas pérolas do conhecimento que revelam, pouco a pouco, a essência do Ser.
A meditação da semana já está disponível no Portal do Soma. É um chamado à escuta interior, à presença, ao silêncio que revela o Ser.
Como lembra Pedro Kupfer:"O que importa é a atitude reflexiva com a qual o mahāvākya é feito, lembrando que a própria natureza é o Ser ilimitado."
Respire... ouça... silencie.Tudo é consciência. Tudo é o Um.
Se você ainda não é aluna, aproveite os 7 dias gratuitos para explorar o conteúdo e sentir, na prática, tudo o que essa jornada pode oferecer.
Descubra o que é viver em conexão com o Ser:
Nos vemos nas práticas ao vivo.
Hariḥ Oṁ
Patricia de Abreu ॐ